domingo, 3 de junho de 2012

Leonardo conta como acompanhou o acidente de Pedro

Pedro gritava de dor. Eu dizia à enfermeira: ‘Dá um punhado de morfina pra ele, uai!
 

Cantor lembra, em entrevista a VEJA, que seu filho quase morreu exatamente catorze anos depois que o irmão Leandro soube do câncer que o mataria

"Pedro gritava de dor. Eu dizia à enfermeira: ‘Dá um punhado de morfina pra ele, uai!’ (Lailson Santos)
"Voltei de um show em Aurilândia, em Goiás, quando soube que o Pedro tinha acordado. Quando nos vimos, o médico perguntou: ‘Sabe quem é esse aí?’. E ele respondeu: ‘Pai’. A voz saiu tão baixinha... Agora, chego ao hospital e ele, na unidade de terapia semi-intensiva, já diz ‘bênção, pai’, ‘eu te amo, pai’. É uma glória. Hoje ele já comeu macarrão. Está melhor do que eu, que não comi nada.”
O cantor sertanejo Leonardo, 48, estava radiante na gravação de uma campanha sobre os perigos de dirigir na estrada, na quarta-feira, em São Paulo. Entre piadas e galanteios às jovens da equipe, repetiu 37 vezes o slogan “A dor de um acidente pode durar para sempre”. A explicação era simples: seu filho Pedro Leonardo, 24, recuperava-se notavelmente do grave capotamento sofrido em 20 de abril, em Minas Gerais. Pedro passou por quatro cirurgias, ficou trinta dias em coma e teve duas paradas car­día­cas. Leonardo, nascido Emival Eterno da Costa, fala a VEJA, na edição desta semana, sobre os momentos mais pungentes.
COINCIDÊNCIA DE DATAS - O acidente do Pedro aconteceu no mesmo dia em que Leandro soube que tinha câncer e que nasceu meu filho José Felipe, em 20 de abril de 1998. Estávamos numa fazenda em Cotia e íamos abrir uma garrafa de vinho quando o Leandro disse: ‘Pode deixar que sua parte eu bebo. Você tem de ir embora porque seu filho está nascendo’. Era uma mistura de alegria por ver um filho nascer e de tristeza, já sabendo que poderia vir a perda. Deixei de dizer muita coisa ao Leandro. Queria ter deixado a emoção de lado e perguntado: ‘Como é que ficará a coisa? Quem vai cuidar dos seus filhos?’. Mas ele tinha tanta vontade de viver que não me dava coragem de falar nada disso. Não acredito que minha família tenha uma história trágica. Aconteceram mais coisas boas que ruins. Mas já deu. Não aguento mais coincidências, não.”
PIORES DIAS - “Dois dias depois do acidente, não era mais o Pedro. Ele estava com o rosto e as pernas muito inchados. A gente via a hora que ele pararia de respirar. Eu não dormia e, quando tocava o telefone, pensava: ‘É agora’. No dia 23 de abril, uma segunda-feira, ele teve a parada cardíaca. Foram seis minutos. Quando quisemos trazer Pedro para São Paulo, existia uma dúvida: e se a gente faz isso e acontece o pior? Pedro é um moleque grande (mede 1,90 metro e pesava 120 quilos; perdeu 27 desde o acidente), e a porta do jato era pequena. Teve de tirar parafuso, era fio pendurado por todo lado, os enfermeiros o carregando quase na mão.”
RECUPERAÇÃO -  “O pós-operatório da cirurgia no fêmur, feita em 22 de maio, também foi muito doloroso. Pedro gritava de dor. Fiquei desesperado e dizia à enfermeira: ‘Ô minha filha, dá um punhado de morfina pra ele, uai!’. Voltei de um show em Aurilândia, em Goiás, quando soube que o Pedro tinha acordado. Quando nos vimos, o médico perguntou: ‘Sabe quem é esse aí?’. E ele respondeu: ‘Pai’. A voz saiu tão baixinha... Agora, chego ao hospital e ele, na unidade de terapia semi-intensiva, já diz ‘bênção, pai’, ‘eu te amo, pai’. É uma glória. Hoje ele já comeu macarrão. Está melhor do que eu, que não comi nada.”
CINTO DE SEGURANÇA - “É chato, mas é providencial. Pedro estava usando. Acho que foi o cinto que estragou o bucho dele. Tem uma marca horrorosa na barriga. Não vi os laudos, mas sei que ele não estava correndo, dirigia um carro pequeno. Quando cheguei ao hospital e ergui a camisa dele, vi a marca. Por ele ser grande, o cinto que passa pelo peito incomoda. Então ele usava só a parte de baixo.”
SHOWS MANTIDOS - “Vieram me dizer: ‘Você deveria ter cancelado os shows’. Mas ninguém sabe o problema que é cancelar um show anunciado, com 10 000 ingressos vendidos. Pedro estava em boas mãos. Eu cumpro meus compromissos e recebo uma energia boa. Em alguns shows, tive de interromper a música porque o povo gritava: ‘Pedro, Pedro, Pedro’. Quando o Leandro estava internado, eu não parei. Era ele quem me dava força. Ele falava: ‘Vai lá cantar, bicho!’. Trouxe essa lição daquela época.”
PAPEL DE PAI  - “Não fui um pai presente. Eu me preocupo com os meus seis filhos, mas não posso estar junto. Quem vai pagar as contas? Minha fonte de renda são os shows. Não me culpo. Sou um artista com quase trinta anos de carreira, ainda faço 120 shows por ano. Meus filhos mandam em mim, só sei dar conselho. Cantei durante minha juventude toda com Leandro em boate que tinha prostituta e drogado. Nunca encostei nem em cigarro.”
FUTURO PROFISSIONAL - “Esse ritmo novo, o universitário, deu uma reviravolta na música sertaneja. Mas naquela época só dava Leandro & Leonardo, com aquele zoião verde e corpo atlético. Eu pesava 75 quilos, 3 em cada panturrilha. Parecia um cupim de boi. Aproveitei demais e agora pareço um velho chato, vivendo do passado. Estou com a cara muito murcha, quero dar uma esticada, aplicar um Botox, mas dizem que aquelas agulhas doem demais. Vão fazer um filme sobre nós, e o Bruno Gagliasso, um cara bonito, vai me interpretar. Será um filme sobre muitas glórias, alegrias, dor e sofrimento total. De muita fé e de milagre, como esse que o Pedro ganhou agora.”
http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/leonardo-conta-como-acompanhou-o-acidente-de-pedro

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