Leonardo faz 53 anos, mais de 30 dedicados à música
Conheça a história de sucesso que levou os meninos de Goianápolis para dentro da casa de milhões de brasileiros
A carreira de Leonardo teve muitos momentos difíceis, e a proximidade do artista com a mídia, participando de vários programas da TV aberta (desde programas de auditório a Ana Maria Braga) fez com que sua personalidade se tornasse algo público. Em Goiás, com o envelhecimento dos hits dos anos 90, o artista e a dupla que teve com seu irmão adquirem um status de ídolos regionais. “Leandro e Leonardo são os Beatles de Goiás”, afirma Carlos Rodrigues, fã da dupla. “Nenhum outro artista aqui de Goiás conseguiu arrastar uma multidão tão grande de fãs e mexer tanto com a sensibilidade do público como Leandro e Leonardo”, completa.
Antes da fama
Em entrevista ao cantor Michel Teló, registrada no livro Bem Sertanejo, de Teló e André Piunti, lançado em 2015, Leonardo relembra os momentos anteriores à carreira artística, como a época em que ele e o irmão trabalhavam em plantações de tomate, na zona rural de sua cidade natal. “Vivi até os 18 anos na plantação de tomate com o Leandro. Depois, nos mudamos para Goiânia. Eu trabalhava numa farmácia e o Leandro vendia sapato no centro da cidade”. O cantor conta que o responsável pelo sucesso da dupla veio da experiência que o irmão mais velho tinha, tocando em bandas.
Leandro cantava na banda Os Dominantes, que fazia covers de artistas como Roberto Carlos e os Beatles. Leonardo descreve cantorias descompromissadas em meio às plantações de tomate, e conta que o irmão nem mesmo sabia de sua vocação para a música. “O Leandro tocou em banda de baile, ganhou muito conhecimento. Enquanto eu ficava na roça, ele andava por esse mundão. Só depois ele descobriu que eu também cantava e gostava de sertanejo”. Para Leonardo, a ideia de se apresentar para grandes públicos parecia intimidadora. “Eu ficava cantando na roça mesmo, tinha uma vergonha danada. Morria de medo de fazer sucesso, subir ao palco”.
A dupla foi formada no ano de 1983. O nome foi escolhido pelo próprio Leonardo, que queria dar um aspecto moderno, que contrastasse com nomes de duplas das gerações antigas. Escolheu Leandro e Leonardo, que seria o nome dos gêmeos que sua irmã esperava. Após vencerem alguns concursos de calouros, realizados por emissoras regionais de televisão, foram para São Paulo, onde gravaram 500 cópias de um disco conhecido como Volume 0. O disco não obteve êxito nas rádios, mas o talento da dupla chamou a atenção da gravadora 3M, que gravou com a dupla os discos Volume 1 e Volume 2, lançados em 1986 e 1987.
O disco de 1987 fez com que a dupla ficasse conhecida regionalmente através da música Solidão, uma composição de Zezé di Camargo, que já era uma figura conhecida no cenário sertanejo de Goiás à época. Segundo Zezé di Camargo, também em entrevista registrada no livro Bem Sertanejo, conta que pretendia conseguir um dinheiro vendendo a canção ao cantor Amado Batista, mas que Leonardo insistentemente conseguiu gravar. Leonardo conta que os músicos eram muito próximos quando moravam em Goiânia, e que foram juntos para São Paulo. “Eu, ele [Zezé di Camargo] e o Leandro vivíamos praticamente juntos em Goiânia”.
Sucesso
O primeiro sucesso nacional da dupla veio em 1989, no disco Volume 3. A canção ‘Entre tapas e beijos’, que a princípio não seria a música de trabalho, tornou-se sucesso em vários lugares antes mesmo dos artistas tomarem conhecimento. Em uma das rotinas de viagens entre rádios e programas de TV, passaram a observar que a música tocava incessantemente nas rádios. Iniciava-se uma demanda pelos autores da canção, como afirma Leonardo na autobiografia Não aprendi dizer adeus, lançada em 2013. “Começou a chegar gente de fora pra ver quem a gente era. É, porque a música tava estourada, mas a imagem, não. Ninguém sabia ainda como a gente era. E aí, eles viram aqueles dois meninos.”
Leonardo conta o momento em que se deu conta de que estava famoso, em uma viagem, quando pararam em Uberlândia, Minas Gerais. “A nossa caminhonete, que era velha, movida a diesel, arrebentou a mangueira do hidráulico. Levei pra uma oficina e o Leandro mandou: Fica lá, vigiando. Enquanto o mecânico arrumava a caminhonete, ‘Entre tapas e beijos’ tocou dezessete vezes no rádio! Eu ia mudando de estação e só dava ela! Flagrei até o mecânico cantando um pedaço da música”.
Apesar do sucesso, não foi esse o momento em que a dupla atingiu a estabilidade financeira, tendo em vista que a gravadora 3M fechou as portas, sem nem mesmo saber do sucesso da dupla. Eles tiveram que voltar para Goiânia. Alguns dias depois, entretanto, foram informados de que a gravadora Chantecler contrataria 10 artistas do elenco da falida 3M, e o nome deles estava incluído. Com a gerência de uma gravadora mais experiente, que dominava o mercado sertanejo, ‘Entre tapas e beijos’ chegou ao topo das paradas de suceso e fez a dupla chegar à marca de 1 milhão de cópias vendidas, apresentando-se em programas de TV em rede nacional.
O disco Volume 4 foi gravado em um contexto sucesso, e saiu em 1990. A dupla estava com moral pra escolher o repertório, e a popularidade que parecia já estar em alta chegou a extremidades inimagináveis. O disco conta com os sucessos ‘Pense em mim’, ‘Desculpe, mas eu vou chorar’, e ‘Talismã’. “Dali para a frente, a nossa fama virou coisa do nível de Roberto Carlos, de Xuxa. Durante um tempão só se falou de Leandro e Leonardo nos quatro cantos desse País. Entrevistas, capas de revista, propagandas na televisão… Tava todo mundo querendo conhecer a nossa história, querendo saber de onde a gente tinha vindo, para onde a gente estava indo”, conta o cantor em sua autobiografia.
Nessa onda de sucesso, gravaram mais 8 discos. Canções como ‘Não aprendi dizer adeus’, ‘Não olhe assim’, ‘Sonho por sonho’, ‘Temporal de Amor’, ‘Mexe mexe’, ‘Diz pra mim’, ‘Eu juro’, ‘Doce mistério’, ‘Horizonte azul’, ‘Rumo a Goiânia’, ‘Comade e compade’ e ‘Um sonhador’ são exemplos de hits imortalizados pela dupla ao longo dos 8 anos de sucesso que se seguiram até a morte do cantor Leandro, em 1998, por um tipo raro de câncer de pulmão que fez com que ele falecesse em menos de três meses após a descoberta.
Em uma comoção nacional, o cortejo do cantor foi acompanhado por mais de 150 mil pessoas, com cerimônias em São Paulo e em Goiânia, tudo televisionado por várias emissoras em alcance nacional. O cantor foi sepultado no Cemitério Jardim das Palmeiras, e seu túmulo até hoje é um espaço para muitas homenagens ao cantor e à dupla, por sua grande contribuição à música sertaneja, de Goiás e do Brasil. Após o choque, Leonardo precisou se afastar dos palcos por um tempo, até que se recuperasse e pudesse encontrar motivação para cantar novamente, e sem o irmão.
Carreira solo
O primeiro disco solo de Leonardo, Tempo, saiu em 1999. De lá para cá, lançou mais de 15 discos. Seu trabalho, atualmente, tem sido apresentar o espetáculo Cabaré, ao lado do cantor Eduardo Costa. Descontraído, os cantores fazem piada com o título do nome, e lembram inclusive da importância das jukeboxes na divulgação de artistas em casas noturnas. No livro Bem Sertanejo, Eduardo comenta o sucesso nos cabarés. ““Em puteiro, ou está tocando um forró ou algo bem meloso. Lá tem aquelas radiolas, que você põe a ficha. Então, eu, o Amado Batista, o Leonardo… A gente é quase contratado pelos puteiros do Brasil”.
Leonardo emenda o companheiro de palco, sempre com muito bom humor. “O Daniel, com aquela cara de pastor, vai bem na putaria também. Dessa turma mais nova tem o Jorge e Mateus, por exemplo. Mas o rei mesmo é o Eduardo Costa”. Em outro momento da entrevista a Michel Teló, Leonardo comenta um pouco do que acha da ‘cara feia’ que algumas pessoas fazem para os artistas do sertanejo. “Tem muita gente que curte música sertaneja em casa, no carro. Mas quando alguém pergunta ‘o que você curte?’, a resposta é sempre igual: ‘MPB’. Não tenho nada contra MPB, sou fã também. Na verdade, é esse povo metido que fala que música sertaneja é coisa de chifrudo. Esse povo elitizado é o que mais toma chifre no Brasil”.